A colônia de Roanoke desapareceu em 1590 e agora um especialista diz ter resolvido este mistério

A colônia de Roanoke desapareceu sem deixar vestígios. Tudo começou nos primeiros dias do Novo Mundo, quando um grupo de colonos chegou a uma ilha na costa da América do Norte. Eles construíram casas, começaram a cultivar e, assim, criaram uma pequena comunidade. Em três anos, no entanto, essas pessoas sumiram e nunca mais foram vistas. A questão é: para onde será que eles foram? Bem, parece que algumas novas e convincentes evidências podem finalmente resolver este mistério.

Até hoje o paradeiro daqueles habitantes continua sendo uma das incógnitas mais duradouras da história estadunidense. Aliás, a colônia mal tinha se estabelecido quando o governador John White deixou Roanoke e partiu em missão para obter suprimentos. Porém, ao retornar, ele viu que nenhum dos colonos - nem mesmo os membros de sua própria família - estavam por lá. Logo, o que será que aconteceu?

Os colonos se foram em uma violenta batalha pelo controle do Novo Mundo ou morreram de fome enquanto esperavam pelo retorno de White? Inclusive, será que eles sobreviveram e trocaram Roanoke por outro lugar? Seja qual for a verdade, isso permaneceu como um mistério. Com o passar dos séculos, o caso caiu no esquecimento... até agora.

Pois é, em outubro de 2020, um novo capítulo dessa fascinante história começou a se desenrolar. A First Colony Foundation, um grupo de pesquisa sediado na Carolina do Norte, surgiu com evidências que lançam uma nova luz sobre o destino daqueles colonos. Então, será que o mistério de Roanoke foi solucionado de uma vez por todas?

A história dessa desaparecida colônia teve início em maio de 1587, quando colonos ingleses zarparam para a Ilha de Roanoke. Um pequeno pedaço de terra na costa do que hoje é a Carolina do Norte já havia sido o lar de uma outra comunidade, a qual tinha se estabelecido dois anos antes. Contudo, aquela aventura anterior falhou e a maioria dos habitantes voltou para sua terra natal.

Determinado, o segundo grupo de colonos chegou à Ilha de Roanoke em julho de 1587. Como mencionado anteriormente, eles foram liderados por um homem chamado John White, o qual havia sido membro daquela primeira colônia que tinha dado errado. Conforme os registros, havia 115 pessoas, tanto homens quanto mulheres e crianças. Entre esses indivíduos, a propósito, encontrava-se a filha do governador, a qual estava grávida. Em pouco tempo, ela daria à luz a primeira criança inglesa nascida na América do Norte.

Entretanto, apenas dez dias após este importante acontecimento, White foi forçado a deixar a colônia para trás. Como os suprimentos estavam acabando, parece que ele precisou retornar à Inglaterra para conseguir mais recursos. Portanto, no final de agosto, o governador deixou sua família na Ilha de Roanoke e embarcou na longa jornada que era atravessar o Atlântico.

Infelizmente, a viagem de White demorou muito mais do que ele havia previsto. De volta à Inglaterra, sua missão foi colocada de lado pela ameaça da Invencível Armada - em que os espanhóis tinham a intenção de invadir as Ilhas Britânicas. Depois de dois anos, por fim, as forças de Francis Drake venceram e o governador de Roanoke pôde finalmente retornar à colônia na América do Norte.

Todavia, quando White voltou à ilha, cerca de três anos já haviam se passado. Ao invés de se deparar com uma próspera colônia, ele encontrou o ambiente abandonado. No entanto, para onde o povo que contava até com a neta do próprio governador tinha ido? Bem, este é um mistério que continua a assombrar os Estados Unidos até os dias de hoje.

Em uma verificação mais atenta, porém, o povo de Roanoke aparentemente não sumiu sem deixar rastros. Quase tão famosa quanto a abandonada colônia é a mensagem que os desaparecidos habitantes parecem ter deixado para trás. Em uma árvore, White encontrou esculpida em letras maiúsculas a palavra "CROATOAN". Nos arredores, outro tronco trazia algo semelhante: "CRO".

Contudo, antes que White e seus homens pudessem investigar melhor, uma terrível tempestade atingiu aquele deserto assentamento. Por alguns problemas envolvendo as embarcações, não houve outra escolha senão dar meia volta e partir para a Inglaterra. Lá, o governador de Roanoke viveu até o fim de sua vida, não conseguindo dinheiro suficiente para voltar ao Novo Mundo e procurar por sua desaparecida família.

Dessa forma, o que de fato aconteceu? Ao longo dos anos, várias diferentes teorias surgiram para explicar o que White encontrou quando retornou à colônia. Uma das mais populares, entretanto, é que os colonos abandonaram Roanoke e se mudaram para a Ilha de Croatoan, a qual fica a cerca de 80 km a sudeste.

Isso foi fundamentado, claro, nas mensagens gravadas que os colonos deixaram para trás. Todavia, por qual motivo eles teriam escolhido trocar a Ilha de Roanoke pela Ilha de Croatoan, a qual é conhecida atualmente como Ilha Hatteras? Segundo alguns especialistas, aquilo pode ter sido a maneira que os colonos, sem recursos em uma terra estrangeira, encontraram para sobreviver.

De acordo com essa teoria, os habitantes de Roanoke optaram por unir forças com os hatteras, os quais viviam em Croatoan. É certo que o conhecimento dos nativos da região teria ajudado os colonos a sobreviver, pois seus suprimentos mesmo terminaram. Na verdade, alguns acreditam que os descendentes de White e os outros colonos simplesmente se misturaram à tribo indígena.

Curiosamente, essa teoria ganhou mais credibilidade no início do século 18, quando o explorador inglês John Lawson chegou à Carolina do Norte e visitou o povo hatteras. Pelo jeito, ao entrar em contato com eles, Lawson ficou surpreso ao notar que uma parte da tribo parecia ser parcialmente caucasiana. Afinal, algumas das pessoas que o inglês encontrou tinham olhos cinzentos, o que indicou a ele algum tipo de influência genética europeia.

Aquelas pessoas eram descendentes dos colonos de Roanoke? Lawson aparentemente acreditava que sim. Em seu livro A New Voyage to Carolina, de 1709, ele teorizou que os colonos acabaram perdendo a fé que White voltaria e, assim, escolheram assegurar seu futuro na América do Norte por meio da união com os hatteras.

No entanto, está longe de essa ser a única teoria apresentada para explicar o que ocorreu com a desaparecida colônia de Roanoke. Conforme a lenda, outros colonos da região embarcaram mais tarde em uma missão para descobrir o destino de seus antecessores e encontraram, por fim, o chefe do povo powhatan.

A história que esse chefe contou foi cruel. Ao que parece, em uma tentativa de evitar que seu povo fosse ameaçado por aqueles estrangeiros, ele massacrou os colonos. Porém, embora a história seja certamente bastante dramática, há poucas evidências concretas que sustentem tal teoria.

Desse modo, os colonos de Roanoke foram mesmo dizimados por aqueles agressivos nativos? Eles pacificamente se misturaram com os hatteras? Ou alguma outra coisa muito diferente havia acontecido? Na década de 1930, o dramaturgo Paul Green estava pesquisando a respeito do mistério para uma obra quando reparou que os espanhóis acabaram gravando o assentamento em detalhes. Será, então, que foi o império rival que atacou aqueles despreparados colonos?

Outra teoria ainda sugere que os ingleses se cansaram de esperar por mantimentos e resolveram retornar à Inglaterra sem ajuda alguma. Se isso de fato ocorreu, eles possuíam um navio e marinheiros capazes de fazer a viagem, contudo, provavelmente se perderam no oceano sem deixar nenhum rastro.

Entretanto, apesar de toda essa especulação, nunca houve uma resposta definitiva acerca do que aconteceu com o povo de Roanoke. Em 2012, todavia, alguns pesquisadores descobriram algo extraordinário sobre um artefato do Museu Britânico. Conhecido como mapa de La Virginea Pars, aquela obra foi pintada pelo próprio White em 1585.

Exibindo algumas das primeiras colônias ao longo da costa leste da América do Norte, o mapa inclui também o povoado da Ilha de Roanoke. No entanto, quando uma equipe da First Colony Foundation analisou aquele item, eles descobriram algo inesperado. Na superfície do antigo papel, havia duas misteriosas manchas.

Intrigados, os pesquisadores lançaram uma luz através do mapa e foi aí que encontraram um símbolo oculto sob uma das manchas. Na forma de uma estrela de quatro pontas, está o que se acredita representar a localização de um forte a aproximadamente 80 km a noroeste de Roanoke. Poderia ser este o local, antes desconhecido, em que os colonos foram parar?

Afinal, aquele espaço, apelidado de Local X, além de ficar próximo a um assentamento indígena, também se situava onde os europeus foram conhecidos por estabelecer suas cidades. Porém, para realmente desvendar esse mistério, a First Colony Foundation precisava realizar uma adequada escavação. Portanto, uma equipe liderada pelo arqueólogo Nick Luccketti foi ao condado de Bertie, na Carolina do Norte, em 2015.

Em pouco tempo, a equipe deparou-se com algo promissor. Ainda que não tenham encontrado evidências de qualquer tipo de fortificação, eles descobriram mais de 20 fragmentos de cerâmica que eram aparentemente de origem inglesa. Aliás, os cacos eram semelhantes aos que foram descobertos na própria Ilha de Roanoke.

É claro que a área ao redor do Local X foi povoada por colonos ingleses os quais, inicialmente, ficaram ao sul de Jamestown, no estado da Virgínia. Contudo, isto só ocorreu no fim do século 17 e, pelo jeito, as peças de cerâmica são anteriores a esse período. Dessa maneira, isto sugere que os artefatos foram deixados para trás por europeus que viajaram para a Carolina do Norte antes dos primeiros colonos que conhecemos daquela região. Ou seja, será que foram trazidos de Roanoke?

Usando um radar de penetração no solo, Luccketti e sua equipe localizaram outro interessante ambiente a somente 3 km de distância. Em dezembro de 2019, eles voltaram para realizar escavações adicionais por lá. Assim como no lugar anterior, acabaram encontrando peças europeias de cerâmica que acreditavam ser da época da colônia de Roanoke.

Ao que parece, aqueles fragmentos encontrados no que foi apelidado de Local Y tinham vindo de diferentes lugares. Os especialistas acreditam que as peças de cerâmica vieram da Inglaterra - norte de Devon, Essex e Londres -, bem como da França e da Alemanha. Entretanto, como foram parar ali?

Segundo a equipe, os fragmentos de cerâmica eram de potes que serviam para guardar e preparar alimentos, o que indica que já pertenciam a uma comunidade estabelecida. Embora seja possível que os objetos tenham sido deixados para trás por colonos posteriores, Luccketti e sua equipe não acham que esta seja a verdadeira origem das peças.

Um dos sinais mais convincentes de que a cerâmica data da era Roanoke? Bem, os cachimbos - ou melhor, a ausência deles. Ao que tudo indica, os colonos e comerciantes de Jamestown costumavam fumar em cachimbos de argila. Todavia, de acordo com os escavadores, nenhum cachimbo foi encontrado naquela região do condado de Bertie.

"Estamos muito confiantes de que estas escavações estão ligadas à colônia de Roanoke", comentou um representante da First Colony Foundation à Artnet em novembro de 2020. "Consideramos todas as possibilidades plausíveis e não conseguimos encontrar nada que se encaixe mais nas evidências". Nem todos, porém, estão de acordo.

"Estou cético", disse o arqueólogo Charles Ewen, da Universidade da Carolina do Leste, à National Geographic. "[A First Colony Foundation] está buscando provar ao invés de tentar refutar sua teoria, que é como a ciência [de fato] funciona". No entanto, se estes cacos de cerâmica não são provas da migração dos colonos para o condado de Bertie, o que são?

Em uma entrevista de 2015 à National Geographic, o arqueólogo Brett Riggs apontou que os artefatos não significavam necessariamente que os europeus haviam se estabelecido no condado de Bertie. Bem, a cerâmica pode apenas ter sido descartada e depois utilizada por membros da comunidade indígena.

"Qualquer coisa útil eles levavam para suas casas", explicou Riggs. "Eles pegavam tudo". Ivor Hume, um arqueólogo que chegou a escavar a Ilha de Roanoke, acrescentou que era bastante problemático anexar uma linha do tempo tão precisa aos achados. Ele expôs: "Eu não poderia datar artefatos entre 1590 e 1630. Alguém guardou algo por seis semanas ou seis anos? É difícil saber".

Isto não é tudo. Conforme Scott Dawson, o qual foi co-fundador da Sociedade Arqueológica de Croatoan, o condado de Bertie teria sido um improvável destino para os colonos desaparecidos. À Artnet, ele explicou: "[Era] o núcleo do território inimigo; o último lugar para onde eles iriam. Eles literalmente escreveram [que] foram para Croatoan".

Dawson não é o único que prefere a teoria de Croatoan. Em 1998, arqueólogos da Ilha Hatteras descobriram um dourado anel com símbolos heráldicos que era aparentemente da Inglaterra do século 16. Desse modo, será que aquele objeto foi trazido como uma valiosa herança de Roanoke?

Possivelmente! Desde 2009, Dawson e sua esposa patrocinam escavações em um específico local na Ilha Hatteras que ficou conhecido como Cape Creek. Ao longo dos anos, eles recuperaram vários artefatos europeus, como parte de uma espada conhecida como rapieira, uma barra de cobre e uma porcelana da Alemanha - todos de uma camada de solo que datava o final dos anos 1500.

Óbvio que é possível que tais utensílios tenham sido simplesmente negociados pelos colonos ao invés de trazidos com eles à Ilha Hatteras. Contudo, por meio das escavações, alguns itens pessoais foram descobertos, como um pedaço de ardósia no formato da letra "M". À National Geographic, o arqueólogo Mark Horton analisou: "Isso era de alguém que sabia ler e escrever. Não era útil para o comércio, pertencia a um instruído europeu".

Então, os desaparecidos colonos de Roanoke acabaram na Ilha Hatteras, no condado de Bertie ou em algum outro lugar? Segundo Ewen, não há uma resposta definitiva. Ele disse: "Ainda não sabemos o que aconteceu e estamos esperando para ser persuadidos. Não acho que exista algo fora de questão".

Para alguns, entretanto, os artefatos descobertos fornecem significativas evidências de que os colonos se dirigiram mesmo para o interior. À Artnet, William M. Kelso, do grupo de preservação Jamestown Rediscovery, declarou: "O que foi encontrado até agora no Local Y, no condado de Bertie, parece ter resolvido um dos maiores mistérios do início da história estadunidense: a odisseia da colônia desaparecida".